sexta-feira, fevereiro 27

Made in ...!


Com a crise, regressaram algumas ideias de proteccionismo e tentativa de “fechar” algumas fronteiras e incutir nos consumidores a necessidade de comprarem produtos domésticos em detrimento dos importados.

Nada tenho contra a valorização do produto nacional e, naturalmente, que é preferível comprar produtos nacionais do que estrangeiros, dando, assim, um maior estímulo à nossa economia.

No seguimento da eleição de Barack Obama para a presidência dos EUA, rapidamente apareceu uma cláusula “Buy American”, incluída no pacote de relançamento económico proposto pelo novo Presidente da maior economia mundial.

Por cá, também o Governo e alguns empresários vieram a terreiro avisar que, se não consumirmos o que é nacional, as fábricas irão fechar, o desemprego vai aumentar e a nossa economia irá piorar.

Volta a frisar que nada tenho contra o “Made in Portugal”, desde que tenha qualidade, é claro.

O que muito gente se esqueceu é que, se as outras economias fizerem o mesmo que nós aqui e outros por essa Europa fora estão tentados a fazer, o problema talvez se agrave.

Ou seja, imaginemos que uma Alemanha toma a decisão de incutir no “Deutsches Volk” que devem consumir produtos “Made in Germany” e não produtos importados! Ou que o Reino Unido de Gordon Brown decide “fechar” as fronteiras a produtos importados! Ou que os mercados escandinavos resolvem não comprar mais além fronteiras! Ou que em vez de viajar para o estrangeiros, os diversos países decidem apoiar o “vá para fora cá dentro”, mas nos países deles!

Para onde exportarão os nossos produtores de vinho, os nossos empresários do calçado, da cortiça, dos têxteis, do azeite, do plástico, etc.?

Será que o mercado português tem capacidade para toda a produção de vinho, todos os sapatos produzidos, cortiça, azeite ou plásticos? Não me parece.

O que faria uma Sogrape, uma Aveleda, um Esporão, um sector como o Vinho do Porto se não exportasse? O que seria de uma Amorim, se não colocasse no mercado externo toda a cortiça que produz? O que seria de uma Logoplaste, se não conseguisse levar lá para fora toda a sua inovação?

Não podemos cair na tentação de querer somente comprar o que é nacional/português, sem esperar que os outros façam o mesmo.

Se não temos de concordar com posições como “se há que optar, optemos por produtos espanhóis”, de Miguel Sebastián, secretário de Estado da Indústria espanhol, ou do “british jobs for british workers” do Primeiro-Ministro britânico Gordon Brown.

Afinal, onde está a tão apregoada livre circulação de bens, serviços e pessoas na Europa?


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